Com mais de uma década de experiência em gerenciamento aplicado ao segmento da construção civil, permita-me compartilhar algo interessante: a busca pela implementação do BIM, no Brasil, nunca esteve tão fervorosa. No entanto, antes de embarcar nessa jornada, os gestores dos escritórios normalmente se perguntam: será que compensa?
A resposta para esse questionamento pode ser obtida por meio de uma análise da recuperação do capital investido. O cálculo do ROI obriga os envolvidos a analisarem como estão gastando e quais resultados podem obter.
Que negócio é esse de ROI?
Se você nunca ouviu falar sobre este termo, fique atento: essas três letras podem ser a chave para o sucesso do seu escritório. ROI, ou Return on Investment (Retorno sobre Investimento), é uma métrica poderosa que revela a eficiência e a rentabilidade de suas decisões financeiras.
Através dele, você desvendará o verdadeiro potencial da aplicação. Trata-se de uma janela para o futuro, revelando quais caminhos podem levar a resultados brilhantes.
Como calculá-lo?
A fórmula básica é a seguinte:
ROI = (Lucro Líquido / Custo do Investimento) * 100
O resultado do cálculo indica o retorno obtido em relação ao investimento inicial. Um número positivo significa lucro, enquanto um índice negativo indica prejuízo.
ROI & BIM: será que dá jogo?
O principal desafio nessa relação está nas oscilações de produtividade dos usuários durante o período de adaptação da implementação. Inicialmente, é natural ocorrer uma diminuição da eficiência, devido à familiarização com a nova tecnologia. Entretanto, à medida que o tempo avança, o rendimento se recupera e alcança, inclusive, patamares superiores ao proposto no processo original. Essa evolução se confirma à medida que o BIM é consolidado no ambiente de trabalho.
O diagrama abaixo ilustra como isso acontece:
Pensando nesse aspecto, proponho uma fórmula que pode ser utilizada para calcular o ROI do BIM no primeiro ano de adesão:
Ela considera as seguintes variáveis:
X = Custo de incremento de hardware e software, no período de um ano.
Y = Custo mensal de mão de obra.
Z = Tempo de treinamento em meses.
W = Perda de produtividade durante implementação.
K = Ganho de produtividade após implementação.
Quer compreender a fórmula proposta?
Uma parte do numerador representa o aumento da produtividade advindo da utilização do BIM. Esse acréscimo é representado pela expressão (Y – (Y / 1 + K)). O complemento do numerador indica a diferença entre total de meses do ano e o período de implementação (12 – Z).
O denominador retrata os custos com a implementação, por meio da soma dos valores relacionados ao parque informático com o produto de três fatores: custo mensal de mão de obra, tempo de implementação e perca de produtividade durante o processo — portanto, X x Y x Z.
Existe algum ponto crítico na equação?
Ao brincarmos com os números, percebemos que o ganho e a perda de produtividade são os pontos mais sensíveis na equação. Pequenas alterações nesses valores produzem mudanças dramáticas no resultado, afinal o aumento produtivo é o principal objetivo a longo prazo de um investimento em gestão.
Com base em estudos e pesquisas, é comum encontrar referências que apontam um ganho médio de produtividade na faixa de 10% a 20% com a implementação do BIM. Essa faixa de porcentagem é frequentemente mencionada como um resultado razoável e alcançável para empresas que adotam efetivamente a tecnologia.
Dentre as principais publicações que abordam estes índices, destaco o “Estudo sobre o uso do BIM no Brasil”, da CBIC/Fiesp e “BIM e a produtividade na construção civil brasileira”, da FGV.
O fator menos importante em nosso cálculo acaba sendo o investimento em hardware e software, algo surpreendentemente interessante. Dobrar estes custos reduz o ROI em apenas 20%, aproximadamente.
E as limitações?
Um dos principais problemas dessa abordagem é que o ROI funciona melhor na análise da economia de custos do que na geração de receitas. Ele também necessita de elementos tangíveis e mensuráveis, principal motivo da inclusão da produtividade na fórmula.
Ao calculá-lo analisando a geração de receita, são necessárias estimativas que diminuem a precisão dos resultados. Um ROI mais amplo poderia englobar uma série de benefícios, como o aumento da lucratividade devido ao aprimoramento na cobrança e na qualidade dos projetos, além do aumento dos negócios recorrentes. Além disso, outros itens poderiam entrar na balança, como o incremento na comunicação e nas apresentações aos clientes, a integração com aplicativos de análise externos e a criação de novas fontes de renda. No entanto, é desafiador quantificar o valor exato desses ganhos, pois eles podem variar dependendo das circunstâncias específicas de cada projeto e escritório.
Qual o retorno ideal?
A maneira mais inteligente de criar um comparativo é relacionando vários investimentos financeiros. Um ROI de 20% ao ano, por exemplo, é considerado excepcional. Comparado a investimentos de renda fixa, como títulos do governo, é significativamente maior. Em relação ao mercado de ações, com um retorno médio de 7% a 10% ao ano, é muito superior. No entanto, é importante considerar o risco, a consistência dos retornos e a natureza do investimento. Embora seja atrativo, é essencial avaliar cuidadosamente antes de investir.
Quais são as reflexões finais?
Se você receber a tarefa de ajudar a determinar o ROI em um processo de implementação do BIM, não entre em pânico. Encare isso como uma oportunidade de aprendizado valiosa tanto para você quanto para seu escritório, verdadeira fonte de percepções cruciais para projetos futuros. Uma vez que o ROI tenha sido calculado e a tecnologia tenha sido implementada, é importante não esquecer de monitorar o desempenho real da organização em relação às expectativas estabelecidas. Isso permitirá avaliar o sucesso do BIM e identificar áreas para possíveis melhorias.
Sobre o autor
Marcelo Holsback
Empresário há mais de 20 anos, atuando em vários setores econômicos, também possui negócios no segmento de AECO nos seguintes nichos: implantação e modelagem BIM, com experiência internacional; escritório de projetos multidisciplinares, realidade aumentada e virtual; manutenção Predial, montagem e instalação de elevadores; construtora com foco em imóveis residenciais de alto padrão. Além disso, atua como gerente BIM da empresa Engeti, uma das maiores empresas de projetos de infraestrutura do Brasil.
Sempre atento ao segmento, foi idealizador do Grupo Aprenda BIM, inaugurado em 2015. Graças as incessantes atividades relacionadas à disseminação do BIM no Brasil, foi nomeado Diretor de Marketing da CBIM Nacional e Presidente Interino da CBIM/SP. Com extensa expertise no aprimoramento de sistemas, tornou-se Beta Tester de inúmeras soluções BIM, entre elas Orça BIM, Augin, VOBI e Unreal Datasmith. Apaixonado pela docência, é professor de inúmeros cursos de pós-graduação.
Ingénieur en Génie Informatique et en Génie Mathématique pela EISTI FRA e Systems Engineer pela Microsoft University. Graduado em Arquitetura e Urbanismo (Universidade Tricordiana) e em Gestão Pública (Univesp). MBA em Gestão de Projetos. Pós-graduado em Gestão de Investimentos e Análise de Mercado.
Apaixonado por sua família, possui quatro filhos! Santista roxo e filho do maior BIM Manager de todos os tempos.
Marcelo, mais uma vez um excelente artigo!
Fez-me recordar quando cursei o Master BIM Manager e tive que escrever um artigo referente ao ROI e foi um sufoco enorme porque não percebi muito sobre o assunto.
Parabéns e que venham mais artigos de qualidade.
Texto bem esclarecedor.
Sempre aprendendo muito com esses artigos!